lundi 11 juillet 2011

com cometas no país de baurets


Palavras bonitas de (ins)piração:

Gurizada, diz o sábio cachaceiro que quem na linha anda o trem pega.

Acho que todo mundo aqui quer parar o trem.

Então, vamos lá. 
Terrorismo poético, muito prazer.

Vamos fazer soar o minuano interno que temos

E queimar de uma maneira que nem esse vento filhodaputa nos atrapalhe

Vamos mostrar que, afinal, o mundo é um mar de fueguitos e

Que assim como no lixão nasce flor

Aqui nesse calor a gente se esfria sem amor

Bora botar uma cor nessa cidade

Cor e amor.

Deslumbrado, vislumbro

Grandes momentos e Grandes presenças 

Eu não sou daqui, mas eu curto AFU esse lugar.

*da série, quando tu acha que tu tá escrevendo e sendo poético sobre tesão pela vida, às 4h35, ouvindo mutantes e pensando o quão foda eles são, é porque, realmente, tu tá muito feliz.

vendredi 1 juillet 2011

Sobre o pau de arara e a anistia e o estrangeiro (parte 2)



Voltemos ao Brasil. Brasil, pau de arara, anistia e o estrangeiro. Segunda parte. Jogo rápido e leitura levinha.

Brasil que, através de fuzis portados por mentes pequenas e manipuláveis, tirou a virgindade de jovens que eram mudos na democracia dos homens de farda. Sim, porque exisitia democracia na DitaduraMilitar, vocês acham que não? O MDB, por exemplo, eles votavam. Depois que o Parlamento voltou a funcionar, a eleição não era mais do Colégio Militar ou Junta ou Caralho a quatro. Era votado. E os parlamentares do Movimento Democrático Brasileiro (escrito assim até parece que eles não foram cúmplices) votavam, e na eleição do Ditador Figueiredo “Prendo e Arrebento quem for contra a redemocratização”, os políticos do MDB ouviam nos corredores do Congresso um mantra dos que eram ARENA - como o Sarney:

- Quem tem cu tem medo, vote figueredo!


                E eles tavam certíssimos mesmo. Quem tem cu tem medo. E quem sabe o que esses caras fizeram com o cu de muitos jovens que nem a gente, sabe que o medo mata. E sabe que o medo é o maior inimigo da democracia. O medo constrói tudo que há de errado no mundo. A cultura do medo é a mãe da cultura da violência. Quando o estudante de Medicina da UFRGS fugiu da província pra se meter no meio da porra do Araguaia com uma arma na mão, o que ele queria? O que ele pensava? Será que, realmente, ele pensava numa ditadura comunista aliada à URSS ou uma Cuba gigante no País Tropical? Ou será que ele pensava que só com essa atitude extrema ele ia poder ter seu grito escutado?

Grito que era de muitos. Grito da hoje Presidenta.

                E o nosso jornalismo que foi assassinado e até hoje continua, boa parte, em coma. Isso não é nem um pouco um apelo para sentimentalismos. Mas, vamos lá:  leitura corporal dos dois lados. Me respondam humanamente quem parece o lado que mais sofreu, já que os reacionários adoram falar do Sargento que o Lamarca assassinou. Primeira leitura corporal, Vlado e Pinochet, os dois no auge:

 Vladimir Herzog, jornalista, se apresenta ao DOPS um dia depois de ter sido convocado a depor. Chegou lá de manhã. Nunca mais voltou. E ainda teve sua foto "suicida" publicada. Essa aí de cima é como o a mídia brasileira vê a morte dele, especialmente, a FDP que cunhou o DITABRANDA. Como diria a sabedoria popular: no dos outros é refresco...


 O tirano mais maquiavélico das ditaduras militares. Responsável pelo assassinato e desaparecimento de mais de 30.000 cabeças que não pensavam do jeito que ele e os EUA queriam. O empresariado chileno o ama. Ele trouxe a estabilidade política que o país precisava. Afinal, o Allende aquele era um comedor de criancinhas, ia invadir a nossa casa e deitar no nosso sofá e não ia ter coca-cola  pra gurizada.

Olhem que tipo perigoso:

...

                O que as gurias do Herzog pensam desse desrespeito que é a Anistia? Que dinheiro que paga ter de estudar o assassinato de seu pai e saber que os assassinos dele viveram tri na boa depois do que fizeram. Não que eu queira o mesmo pra eles. Não quero sofrimento pra ninguém. A dor humana é igual. É universal. Não tem cor, não é vermelha, nem azul. Não é de esquerda nem de Direita nem de Centro. A dor não fica em cima do muro. A dor dói. E isso já é o bastante. Nada mais dói do que feridas abertas. Na América Latina a gente tem veias abertas.
                E Falando do Lamarca. Carlos Lamarca não é nada mais do que um próprio produto dos milicos. Ele treinava a população civil para combater a Guerrilha. O problema dele foi abrir a cabeça, foi desobedecer e fugir para combater pelo lado que ele sempre entendeu como o errado. O problema do Sargento que tava no caminho dele foi estar lá naquele momento. Estou sendo fatalista, sim. Mas, pra mim, os ditadores que impuseram essa merda foram os verdadeiros responsáveis pela aparição e desenvolvimento das Guerrilhas. O Lamarca pode ter atirado. A Dilma pode ter atirado. Mas quem matou, se mataram, não foram só eles. Eles puxaram um gatilho que nunca estaria na mão deles se existisse Liberdade. Simples assim. Idealista e simples. Ou alguém ia querer combater os agentes do DOPS e do DOI-CODI se pudessem reclamar, debater e se manifestar? 

 Aqueles que mascam cascos de vidro fazendo a barba e o bigode do Tio Sam, maior devorador de sonhos desse maldito planeta.


                No entanto, parece que nós a aceitamos. Aceitamos a ferida. Cada livro de história pode ser uma ferida aberta. Ler Presidente na frente do nome dos quatro malditos que comandaram o regime militar desse país me dá vontade de vomitar. Ler que o Allende se suicidou me faz vontade de gritar pro mundo a história do Chile. Allende, aliás, que, finalmente, vai poder sorrir lá na Ilha do Thomas Morus, onde ele certamente está, já que a Justiça Chilena ordenou sua exumação a fim de nova perícia para declarar causa da morte. 
“A isso é coisa de comunista! Querem ficar revivendo o passado, não sabem viver o futuro”. Aham, só fatos históricos construindo uma análise lógica. Allende, do partido socialista, no poder. Mudanças sociais no Chile. Contexto de Guerra Fria. Dinheiro do Tio Sam através da CIA e da Embaixada. Greve de caminhoneiros comprada. Pinochet comprado. Elite vendida. Exército Chileno atacando o Palácio da Moeda, sede da Presidência Chilena. Allende e seus companheiros, eleitos democraticamente e tirados no golpe do 11 de setembro de 1973, resistem até a última bala trancafiados no Palácio. Qual é a lógica do suicídio podendo-se morrer lutando como mártir?



Qualquer coincidência não é mera semelhança.

                A perícia de Salvador Allende que declarou o suicídio era de um médico. Esse médico trabalhava para o exército. O exército acabara de tomar o poder. Mesmo o médico sendo o cara mais professional do mundo, será que os milicos iam gritar aos quatro ventos que eles assassinaram um presidente? Ou é mais fácil dizer que ele se acovardou e se deu um tiro na cabeça? E, bom, aceitando essa hipótese, já que, realmente, na vida tudo é possível, por que raios o óculos dele ficou em tal estado de destruição se ele se suicidou com um tiro?


                E a gente tem uma enorme ferida aberta no Brasil. Uma que a gente não viu acontecer e não viu cicatrizar. Mas, como diria o John Lennon, “WAR IS OVER If you want it”. A nossa geração tem a faca e o queijo na mão para curar essas feridas. Não, Sr. Paulo Brossard, em 2010, revogar a Lei de Anistia não reestabelece o que deixou de existir em 1979. Não revogar é que reestabelece o que existiu a partir de 1964. É o que eu chamo a partir de agora de: Legalização do Pau de Arara. 
Sim, já que Legalização da Maconha já é assunto do século passado, tanto é que o Ternando Henrique Cardoso se meteu na parada. O cara que assumiu e disse “esqueçam tudo o que eu escrevi”. Que crédito. Acho que a Cannabis Sativa vai ficar mais amarga com o tempo vendo quem tá defendendo ela. 
             Mas, voltando, o STF – grande presença no Estado “democrático” de Direito – optou por não revogar a Lei de Anistia em 2010. Dá pra discutir muito sobre o ponto de vista jurídico. E eu, particularmente, acho que revogar ou não revogar está no cerne da questão, mas não seria exclusivamente prioritário. No Chile não revogaram, mas não reconhecem. Na Argentina revogaram. E no Uruguai acabaram de revogar. Ambos já fizeram muito mais do que o Brasil. E não falo aqui de passado. Eu to falando do futuro.

O Futuro bate à nossa porta. A juventude do passado foi guerreira. Admiro quem levou cacetada, quem apanhou, quem foi pego e quem desapareceu. Eles saíram às ruas. Essa foto abaixo, do Evandro Teixeira, é uma foto de um estudante de Medicina. Esse cidadão foi assassinado. Talvez essa foto registre os últimos segundos dele. Será que ele queria uma ditadura comunista no Brasil? Na boa, quem é que usa essa merda de desculpa? Ele queria direitos. Direitos Políticos. Direitos Humanos. Ele ganhou cacetadas dos homens de farda que devem ter destruído o crânio dele. Destruído as idéias e ideais de liberdade desse jovem. Eu olho pra ele e eu me vejo. Eu vejo o meu irmão, meus amigos, vejo um cidadão sendo morto pelo Estado. Estado que nunca reconheceu essa morte como o que ela é: violência política na sua expressão mais extrema, o monopólio da violência legítima, o Estado tendo direito de tirar a vida de alguém.


                E, infelizmente, eu tenho que dizer que acho que a família dele tem sorte. Pelo menos, eles viram o cadáver. Eles enterram o filho deles. Ele não tá desaparecido. Talvez a memória dele esteja desaparecendo, mas ele não. Ele tá na história. Eu imagino o que eu responderia ao governo se me oferecessem dinheiro como indenização por um filho desaparecido ou multilado. Eu tentaria não enlouquecer. Eu tentaria mesmo. E me esforçaria pra conseguir ser um ser humano maior e ir atrás de uma só coisa: a verdade. Não jogar a culpa no infeliz que sentou a porrada até a morte, ou que o botou no pau de arara ou que fez ele desaparecer. Desconstruir essa falácia de “são ordens”. Por que é que seres humanos se matam assim? 

Quem é que causa tudo isso? Quem são os verdadeiros culpados e qual seria a resolução ideal?
                
             Não sou marxista, nem entreguista. Nesse caso não sou de esquerda nem de Direita. Falando de Anistia, de Ditadura Militar, do nosso passado. Falando de Memória e Justiça. Falando de tudo isso, eu sou pela verdade. A verdade somente. Não importa quem diga. Não importa que digam que não existe ou que queimaram os arquivos. Quem viveu sabe o que o aconteceu. E muita gente que viveu tá viva. Eu só queria que o meu país tivesse coragem e que esses cidadãos se mostrassem valorosos e corajosos. Pois, como já diz o hino: verás que o filho teu não foge a luta.


Infelizmente, o filho tá fugindo da luta. O pai já fugiu e o avô matou ou morreu (ou não tava nem aí).
               
                Não me importo com essa política que se faz hoje. Eles não me representam. Eu não quero mais aceitar esse sistema democrático que me oferecem. Não quero o Jobim representando um Velho Brasil Oligárquico e injusto falando em meu nome. Não quero ouvir que os milicos fizeram queima de arquivo. Que não tem mais nada da Ditadura. Não tem mais nada? Eu tenho certeza que mesmo não sobrando nenhuma folha de papel, a memória é viva. Tem muita gente que tem o que falar.
Sabe o que eu quero sendo um jovem utópico que sente um estrangeiro? Eu quero que aprendam alguma coisa com o ser humano mais extraordinário do século XX: Madiba, mais conhecido como Nelson Mandela. Se eu pudesse, eu daria um exemplar da autobiografia do Mandela junto com livros explicando a justiça de transicão pós-apartheid. Os Comitês de Verdade e Reconciliação. A anistia através do depoimento que culmina com o perdão. Anistia através da Verdade. (Quem se interessa no assunto vale a pena. Desmond Tutu, porta voz do Mandela nos 27 anos de prisão: http://www.youtube.com/watch?v=g6tJQRxxGTM&feature=related). Em setembro passado eu estive num congresso em Oxford organizado pelo Ministério da Justiça, Comissão de Anisita e Centro de Estudos Brasileiros de Oxford. Justiça de transição comparada com o caso brasileiro. Lá estavam cabeças que trabalham com o assunto. Que já trabalharam com África do Sul, Uganda, Ruanda, Sérvia, Chile, Argentina, Uruguai e seilá mais o quê. Sei que existe consenso. E o consenso é que qualquer positivização jurídica imposta por regimes de exceção afim de anistiá-los é - pela jurisprudência internacional de direitos humanos - ilegítima. 

Então, não quero uma merda de Presidenta que não tem culhões pra ir atrás da verdade.

Afinal, quem torturou Dilma Rousseff?


                O nosso país tá acomodado. Foda-se o crescimento e desenvolvimento. De certa forma, isso nos cega, nos impede de ver que estamos vivendo uma utopia de consenso político RIDÍCULA. Que não existe e nunca vai existir. Não é só porque o Governo Lula teve a presença de Sarney e Collor que a gente vai se rebaixar. Vão me dizer que é assim que se faz política, sim, é bem assim mesmo. Os cartolas da política brasileira são tão poderosos que eles criam as alianças que quiserem. Dêem um tempo pro tempo. No futuro vai ter tucano marxista e petista neoliberal e pinochetista. Por eles rolaria até rastafári que se alia com nazista. Contudo, assim que se faz a política do século passado. Outra época. Nós estamos no século XXI. Nós somos outra geração. Se nos negamos a aceitar isso não podemos nos enquadrar, temos que criticar. Tem que ser o do contra, o cara chato, o mala, o que não cala a boca. Porque, no fim das contas, tudo se esquece né. Afinal, o Lula foi sindicalista e, por isso, preso na Ditadura. O Sarney foi o presidente redemocrático dos milicos representante da velha política Coronelista à qual o Lula sempre foi oposto. O Lula tava morrendo de fome no Sertão e o Sarney tava comprando fazenda e assassinando a língua portuguesa achando que ele sabe escrever. E o Collor, bom, o Collor devia tá ouvindo a Jovem Guarda e fumando na beira da praia lá no Nordeste. Mas fumando sem tragar hein.

...

                É, uma vez eu li uma frase com a qual eu me identifiquei afu: a gente se defende sorrindo. O que me parece é que quando eu começo a ficar amargo e enveredar por um caminho cético, me vejo obrigado a me apoiar num humor irônico.
                É que hoje tá na moda o que eu não curto. Não sou de ficar em cima do muro. Não vou engolir um passado que não passou. Não vou dormir com a social-democracia que é maior falácia da história. Não existe consenso político algum quanto à memória de um país. Só existe a verdade. E Verdade não vem sozinha, ela vem com Justiça. Não vou perdoar o Imperdoável. Não quero talião tampouco. Eu só quero a verdade. Vinda da boca de quem calava. Da boca de quem ainda nos cala. Afinal, o que temer numa democracia?

Mas como eu disse no começo do texto, eu sou um estrangeiro.


No exterior, eu até me sinto brasileiro. Tinha a verde-amarela na parede do meu quarto. Só que aqui nesse país eu me sinto um completo estrangeiro.

Voltar, afinal, tem uma conotação de retrocesso ou é só impressão minha?