mercredi 11 mai 2011

um pingo de mundo através de olhares diversos, sobretudo, o meu.

O que eu mais ouço depois de lerem textos meus é que eu escrevo do mesmo jeito que eu falo. Assim, ao me lerem, as pessoas, na verdade, me escutam. Ao menos é isso que dá pra tirar desses comentários, n'est-ce pas?
Tava pensando que é pra isso que serve a última flor da lácio, não? O nosso - e somente nosso - português brasileiro.
Acho lindo.
Tudo.
A língua e essas palavras direcionadas a mim que considero não só elogios como reflexos de um dom comunicativo. É. A língua do Caetano. Roçando na de Luís de Camões, mas tão maravilhosamente distinta - sem ofensas aos irmãos lusitanos.
Eu posso me expressar com remarcável desenvoltura em quatro línguas: português, espanhol, inglês e francês.  E Italiano io capisco ma non parlo.  Italiano a vida vai me ensinando aos poucos em diversos cantos do planeta para que eu sempre arranque boas risadas da buona gente que eu encontro correndo o mundo junto comigo.
Já diria o Pessoa: minha pátria é minha língua. A língua materna, no entanto, é - como bem diz o nome - a mãe. E mães, bom, a gente sabe que - raras exceções - são os seres mais lindos com quem a gente divide esse planeta. Que o digam as mother's de Pink Floyd e de John Lennon. 


Nós somos - antes de qualquer outra definição pretensiosa ou não - animais naturalmente comunicativos. Porra, a gente já nasce chorando, querem um exemplo mais expressivo?
E aí? E aí é que tem muita gente maluca nesse mundo que tem que gritar pra ser ouvida. E isso é uma merda. Pra eles e, principalmente, pra nós que escutamos. Escutamos e não entendemos. Não entendendo condenamo-os ao silêncio. Olhem aí o Tiros em columbine revisitado no realengo. Tchê, tem muita gente que mata e morre pra se expressar. Querem exemplo mais emblemático do intragável e, quiçá, infinito mal estar da nossa civilização?

Muita gente, muitos problemas - fantástica definição da nossa era.

Sinto uma pena enorme da juventude extraviada. Uma pena enorme dos Capitães de Areia. Que, diga-se de passagem, apesar de admirá-los muitíssimo (realidade e ficcão) foi um livro deveras traumático. Lido por um pré-adolescente, estudante de uma escola que custava, à época, uns bons e vários salários mínimos mensais. Resumindo, um sortudo filho da elite que ia à Bahia. Mas não àquela Bahia. Ia pra uma muito melhor, uma falsa Bahia ilhada na pequena ilha de Itaparica. Nossa, que chute no estômago. Mas, naquela época, a única comunicação que eu tive com essa realidade foi através do Jorge Amado a quem, aliás, digo obrigado!

Parafraseio o Picasso. O ilustre pablito que, sabiamente, disse que "todas as crianças nascem artistas, o problema é mantermo-nos artistas enquanto crescemos". Agora, sinceramente, lendo isso quem não revirou sua caixa preta a fim de degustar aquelas saborosas memórias da infância quando se era alegremente ingênuo e se vivia num mundo mais colorido e tranquilo. Tipo, literalmente, ganhar comida na boca, quem não sente saudade desses privilégios de uma infância dourada? Que memórias valiosas, não? Concebidos com amor, criados com amor e preparados, com amor, pra um futuro cheio de amor. É lindo. É fácil, na verdade. Complicado, mas fácil. Queria ver o Picasso ter dito essa frase se ele vivesse na terra dos Falcões. Dos meninos do tráfico. Da juventude de balas perdidas. Da vida num estado de exceção no qual o Estado só se faz presente quando os capitães Nascimento sobem o morro cheios de ódios e munição e descem deixando sangue. Muito sangue. Lá, pablito, o problema é crescer. Manter-se artista é impossível porque - raríssimas exceções - nunca se foi durante a infância. Pior: nunca se foi criança.



Através de algumas palavras de Eduardo Galeano, sinto-me culpado por ter um teto, comida e amor nessa vida. Assim, cito o meu genial Vinicius não por expiação, mas por amor. Cito uma das suas obras-primas: O Haver. O grande poeta - nunca o chamarei de poetinha, aliás, ele não gostava desse apelido - falou sobre a "contemporaneidade com o amanhã dos que não tem ontem nem hoje". E, além disso, disse que resta - e enfatizo - nos resta, sim, essa faculdade incoercível de sonhar e de transfigurar a realidade dentro da incapacidade de aceitá-la tal como é. Sem mais comentários. Apenas uma citação com a qual me familiarizei desde que iniciei essa experiência além mar. De esquadros da Adriana Calcanhotto:

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome…
Já diriam os Beatles: Living is easy with eyes closed. 

Sem falsa modéstia para com a própria alma, então. Talvez seja essa a chave pra uma vida boa e sincera.

Mas vamos dar um pulo à Amsterdam porque lá a vida boa. Há semanas eu estava no topo do mundo. O topo de um mundo ocidental viciado em hipocrisia. Vamos pra lá senão fica tudo muito profundo e, bom, a profundidade de um blog - dessa sorte - a gente meio que sabe qual é. É o intervalo de tempo entre fechar essa janela e (re)abrir o facebook, o e-mail ou o iTunes. Ah o século XXI! Falando nele, um salve de quem agitou afu o começo da década depondo autocracias. Nada mais lindo do que o povo clamando por democracia:



Mas Amsterdam, então. Breve relato que já tinha mais ou menos pronto. Dá pra dizer, sem hipérboles, que, praticamente, em todas as cidades desse mundo maldito se acha drogas e putas. Em Amsterdam, não. Lá, se acha Coffee Shops, Grow Shops, Smart Shops e o Red Light District. Onde as mulheres que trabalham com essa profissão, que já é deveras complicada, não ficam expostas à rua, ao frio e a violência e, além disso, ganham uma grana boa e dão vida a um bairro fascinantemente maluco que, antes da mudança na política de drogas, era o lugar mais barra-pesada e perigoso da cidade. Então, é bem isso. Amsterdam é livre. O problema é que nem todo mundo sabe lidar com essa liberdade.



Eu tive uma experiência mágica com a cidade durante os 6 dias que estive lá. Já ao segundo dia, uma experiência fortíssima e inesquecível: Anne Frank Huis. A casa da Anne Frank. Tomado por toda essa aura da cidade e, absurdamente, feliz de estar lá naquele momento e com aquelas pessoas, a gente foi visitar a humanidade. Sim, quando se entra na casa onde essa guriazinha ficou trancada de1940 a 1945 se vê, imponente, o pôster gigante com quatro fotos dela. Pra mim, naquele momento, ela encarnou toda a humanidade. Eu comecei a chorar que nem um bebê nos primeiros passos da visitação. E, não sei se foi uma viagem minha, mas ela me lembrou muito da minha mãe. Algum traço do rosto dela me pareceu tão parecido e me fez imaginá-la meio mãe, meio Anne Frank livre, leve e solta nas ruas de Petrópolis. Assim, foi ficando tudo mais emocionante misturando saudade da família, das raízes e, sabendo, que é hora de voltar pra casa. Só que não, ainda faltava muito e entrar no universo daquela criança foi um chute no estômago. Não, foi bem mais forte. Aliás, foi bem mais forte que a visita ao campo de ''concentração'' em Dachau, em janeiro. Não sei por qual motivo. Refleti um monte depois. Mas acho que, talvez, seja por que a gente conseguiu banir praticamente todos os campos de extermínio do nosso mundo, mas quantas Annes Frank se escondem dos nossos inúmeros holocaustos revisitados em diversas partes do mundo? Não sei. Também não quero adentrar na seara histórica e socialmente analítica.

Mas acho que é isso, deu pra pegar a idéia, não? A casa em que ela se escondeu fica no bairro Jordaan. Que é o filé mignon de Amsterdam. É o bairro mais afastado dos turistas, mais rico, mais lindo. Nossa, é tão lindo. Lá tu vê os holandeses "de verdade" voando em suas bicicletas ao longo das pontes e dos canais. É um lugar tão mágico, um lugar de uma beleza que emana paz. 
Me lembrou de "A vida dos outros", da sonata de um homem bom, que numa cena o protagonista se pergunta: como alguém que escuta isso pode ser uma pessoa má? O Jordaan me fez perguntar a mesma coisa em relação à ocupação nazista. Como quem tava lá podia disseminar tanto mal? 


É ridículo. É tão triste, mas tão triste, imaginar aquela guria vivendo entre dois andares de uma casa, com todas as janelas cobertas por lençóis pretos, sem poder fazer barulho e, pior, sem poder sair pras ruas dessa cidade tão linda e desse bairro tão encantador. Sem poder se comunicar. Nossa! Aquilo foi me matando. Enquanto os agentes do holocausto tavam na rua, ela tava aprisionada, trancada, escrevendo pra não morrer de tédio e pra não morrer na história. Ela foi capturada dois meses antes da guerra acabar. Dois meses! Que foda...

Pegando os ganchos das citações de Anne Frank e do Pink Floyd finalizo com uma foto. Fotografia. Talvez a arte mais rápida e eficaz em termos de comunicação. Não sei. Sei que Anne Frank foi assassinada em 1945 e que o Pink Floyd fez The Wall em 1979. Mas, vivemos o futuro. Volvemos al futuro. Falemos do nosso século. Quiçá, assunto para um próximo post: MUROS.

Afinal, em 2011, a gente ainda vive isso:


Por quê?

jeudi 5 mai 2011

O Osama matou o Obama


        

              Não entendi o frenesi gerado pela reação de boa parte do povo norte-americano quando da notícia da morte de seu inimigo público número um. Conhecendo o perfil típico do cidadão, digamos, de classe média dos Estados Unidos, essas manifestações não são nem um pouco surpreendentes. Então, por favor, vamos parar com essa falsa surpresa que me parece um tanto quanto bastante hipócrita. Sim, porque não tem nada de novo nisso! Pelo menos, eu não vejo nada de novo. Mas, talvez, eu seja um maluco. Então, pera lá e deixa eu dizer o que me assuta, de verdade, nisso tudo.
          Me assusta, primeiro, quem se interessa de maneira superficial sobre essa política externa e, quiçá, interna da super-nação que domina o mundo. Sim, mataram o Bin Laden, o terrorista mais famoso da história recente, praticamente, um pop star do século XXI. Mas, tchê, e que tal toda a galera que tá lá apodrecendo e sendo torturada em Guantanamo Bay? É, lá no lindíssimo Caribe, na pequena ilha que abalou o mundo com uma revolução que, hoje, se perdeu. Aham, lá, a nação mais poderosa do mundo impõe um estado de exceção em território alheio, simplesmente, cagando pra toda histórica luta da humanidade pelo respeito aos direitos humanos.

          O tio Obamão foi eleito em 2008, foi tudo muito lindo, sim, lindíssimo. Uma campanha mágica. O povo gritando “YES WE CAN”, clamando “CHANGE” e sendo liderado pelo primeiro negro a se tornar presidente duma nação que até os anos 70 vivia uma espécie de apartheid social, onde a cor da pele definia o que tu podia fazer, sonhar, tua posição social (e teu lugar no ônibus). Aliás, até hoje, em quase todas as cidades norte-americanas mais socialmente convulsionadas tu, enquanto ser humano branco, se entrares num bairro negro barra-pesada pode ser assassinado – ou só tomar uns cascudos - por seres humanos iguais a ti, mas que por serem negros tem um ódio gigantesco dos caras-pálidas que desde sempre fuderam com eles. Peço um parêntese para um modesto pedido e, quiçá, homenagem a nós, brasileiros, através do nosso maior coração, um ser extraordinariamente lindo e meu poeta favorito, Vinicius, sim, Vinicius de Moraes, ouçam Blues para Emmett e, por favor, entendam a música. Se quiserem, depois de ler isso, vejam Mississipi Burning: clássico. Bom, assim, a gente vai construindo todo esse sentimento de esperança que tomou o mundo na eleição da superpotência – que é tipo o evento do ano, depois do Oscar, é claro.
          Digo que a esperança é, na minha modesta opinião, um dos sentimentos mais universais entre nós, macacos habitantes desse planeta maldito. É isso aí, “HOPE”. Lembrem-se da imagem do grande street artist, Shepard Fairey, que rodou o mundo e transformou esse – quoting Silvio Berlusconi – “homem bronzeado” num ícone não só da política internacional do século XXI, mas, sobretudo, de uma esperança gigantesca de mudança. Esperança, quiçá, de evolução para uma democracia mais justa, humana e igual. E que, vindo da “nação modelo”, seria exportada para o resto do planeta – assim como eles exportaram o neoliberalismo pro Chile no 11 de setembro de 1973 e instalaram os regimes ditatoriais dos homens de farda em quase toda a América Latina. Sim, os Estados Unidos são ótimos em exportação! E não só economicamente, gurizada. Vamos abrir o olho porque quando se trata da pursuit of happiness do povo estadunidense, dane-se o resto!
          Buenas, e agora, vamos ao principal. O que, realmente, me assusta nessa estória é que frente à comemoração pela morte de um ser humano, o essencial passe batido. Sim, todo mundo comentou a morte do cara entre amigos, família, colegas, professores ou na rua e em bares. Afinal, o Osamão é famoso e, melhor, o nome dele é tri parecido ao do Obama, é, é mesmo. E eu não errei no título, deixe-me continuar, caro leitor, deixe-me dizer porque é que eu acho que foi o Osama que matou o Obama. Vamos lá, um dos pontos fortes da campanha do Obama era a questão de Guantánamo. O negão prometeu que ia fechar a base e dar um Ford 1000 para os prisioneiros que tavam lá. Aham, bem nessa. Sim, avacalhei, mas uma promessa não cumprida não é uma avacalhação muito maior? Pra mim é. É um tapa na cara, na verdade. O Obama, antes de chegar no Brasil pra visitar a tia Dilma, tinha assinado um documento que foi, digamos, o primeiro passo para o seu atestado de óbito. O peso da assinatura dele foi a seguinte: os prisioneiros de Guantánamo vão continuar sendo julgados por tribunais militares. Ou seja, ele não só manteve a base aberta como ele disse, de certo modo, que esses bárbaros fizeram por merecer. Ele gritou pro mundo que não tava nem aí pros direitos desses árabes-barbudos-islãmicos, que devem ser a maioria lá, né? Ou não? Classified.

          Bom, agora, aquela pequena desviada, já que o primeiro pilar que tombou desse fênomeno está explicado. Vamos começar  tratar do que chamaremos de decepção Obama. É, vamos impor conceitos pra ficar tudo organizado, confiram, depois, a bibliografia que eu utilizei. HAHAHA. Voltando, voltando, voltando.  Tchê, só eu fiquei meio apavorado com a visita do Obama ao Brasil? Do tipo, gente, esse cara é um desastre político, vamos acordar! Não, claro que não, a CartaCapital fez uma edição maravilhosa intitulada “O desastre Obama”, confiram no site, deve ter... Contudo, vamos à uma análise diferente. É, talvez não seja ele o problema. Porra, por favor, vamos nos aproximar de um conceito weberiano de dominação carismática. Digam-me, sinceramente, quem aqui não simpatiza com o Obama? Falando sério, vamos ao direito ao contraditório – formalismo valorativo manda um beijo pra galera do Direito. Vamos à defesa de Obama.  Ele ama o Lula. Ponto pra ele. Ao menos foi o que ele disse num encontro internacional: “that’s my man right here... I Love this guy, his the most popular politician on earth… it’s because of his good looks”. É, nosso querido sapo barbudo encanta. Depois disso, teve aquele episódio com o Professor universitário que foi preso por tentar arrombar a própria casa. Hãn? É, o Professor era negão, ele tava sem as chaves querendo entrar no seu doce lar e parou na delegacia. A viagem da história é que o policial que o prendeu era um cara anti-racista, seilá, não lembro bem, mas depois que se resolveu o mal-entendido, o Obamão (sim, vamos botar um ão no final, bem homem cordial) chamou os dois pra tomar uma ceva na Casa Branca! Sim, uma cervejinha! Demais, não? E, bom, não é só isso, o Obamão tava com tudo na campanha. Representando aqueles que não tinham voz, dizendo que ia melhorar a situação do seu povo, diminuir a desigualdade, instaurar saúde pública universal, se mostrou à favor do casamento homossexual e à favor da legalização do aborto.  E bom, com a aquela oratória, aquele inglês perfeito, um sorriso cativante. Porra, não tinha como não simpatizar com o Obama.
          Porém, todavia, entretanto, voltemos aos podres poderes e, então, aos dois atos que, para mim, junto com a manutenção de Guantánamo finalizam esse atestado de óbito do presidente norte-americano e, assim, concretizaram a decepção Obama. O primeiro seria o final de um discurso espetacular que Barack Obama pronunciou na casa branca faz poucos dias: http://www.youtube.com/watch?v=lX16OrIVfeQ&feature=channel_video_titleDia 30 de abril. Nesse discurso, Obamão destilou carisma e simpatia. Na boa, ele largou umas ótimas do tipo “Did we fake the moon landing?” e “Where are Biggie and Tupac?”, além de uma alfinetada sobre o local de seu nascimento – que foi muito debatido pela impressa republicana de uma maneira pejorativa, já que o nosso homem bronzeado tem um pezinho na África – e, pra finalizar, um trailer engraçadíssimo plagiando The King’s speech. Lamentavelmente, ao final de, aproximadamente, 20 minutos, o Presidente acaba homenageando os bravos jovens homens e mulheres norte-americanos que estão combatendo do outro lado do oceano sob condições extremas e pede a benção de Deus para eles e para os Estados Unidos. Bom, nem vamos entrar na questão Deus, senão eu nunca acabaria esse texto. Mas só pra não perder o fio da meada, pega um Saramago, devora ele e muda o teu mundo. Voltando ao final desse discurso, vamos a alguns números porque, infelizmente, no mundo em que a gente vive, às vezes, as pessoas não só não se contentam com a beleza e o poder das palavras, mas também as negligenciam de uma maneira brutal and heartless (não sou um grande fã de estrangeirismos, mas nesse caso o nosso velho português faltou). Então, pra evitar aquela cambada de perguntas e constatações cretinas que clamam FONTES, NÚMEROS, FATOS, DADOS, enfim, qualquer baboseira – sim, estou radicalizando – que dê um ar “oficial”. Foda-se! Isso na maioria dos casos só serve pra nos limitar, nos privar de conhecimento e mascarar uma hipocrisia, usualmente, expressada com “só acredito vendo” e frases do tipo, entendem? D’accord, então, aí vai, qual é o bilan, qual o resumo disso tudo:  10 years, 2 wars, 919,967 deaths, and $1,188,263,000,000 later, the United States of America managed to kill one person. Yeah! Fuck yeah, congrats to the most powerful nation que, aponte-se a tempo, matou um maluco que eles mesmo criaram e financiaram QQQ.
        Sim, sim, digo com o coração aberto e da forma mais clara possível, em quatro simples palavras, o que mais me entristece nesse mundo: violência, guerra, indústria bélica. E bom, isso é basicamente uma definição dos United States of America, right?
          Uma nação fundamentada numa economia extremamente dependente de sangue. O capitalismo norte-americano é viciado em sangue e em destruição. A construção do Sonho Americano se calca na tristeza alheia. A cultura da violência. Por favor, olhem a história do século XX e contem nos dedos quantos anos os EUA se desenvolveu sem alguma intervenção bélica, sem invadir algum país, sem matar inocentes – aqui incluem-se os milhões de jovens usados como massa de manobra política e manipulados para espalhar horror em nome de sua bandeira, o futuro de sua pátria amada, seu Deus e sua família. Sim, sim, os comunistas vão nos expulsar de nossas casas e comer nossos bebês, então, como é que não faz lógica ir até a Ásia assassinar um monte de camponeses, largar nossos compatriotas no meio da selva, jogar bombas de napalm em pequenas comunidades que, por terem homens, têm de ser dizimadas e, terminando, por que não largar elementos tóxicos nas plantações deles pra que toda uma geração de miseráveis infelizes nasçam com deformações físicas e mentais? Agent Orange, nada melhor, não pegaram? Google it!
           Sim, sim faz sentido, não? Assim, o pessoal de Hollywood pode trabalhar tranqüilo e os nossos jovens, young pretty ladies e brave old men, podem curtir aquele domingo, o dia cristão, vendo um filminho esperto, comendo fast food, dirigindo seus carros grandes, poluentes e ineficientes, passando pelas ruas iluminadas por publicidades que impõem padrões materiais de felicidade – a velha pursuit of happiness -, é essa a nossa civilização em seu ápice, é isso que a gente precisa e, então, a gente tem que defendê-la! “I WANT YOU FOR THE US ARMY” já diria o Tio Sam. Aham, outra citação, rapidinha, essa do grandessíssimo fascínora capitão Kilgore, no clássico Apocalypse Now: “I love the smell of napalm in the morning. You know, one time we had a hill bombed, for 12 hours. When it was all over, I walked up. We didn't find one of 'em, not one stinkin' dink body. The smell, you know that gasoline smell, the whole hill. Smelled like.... VICTORY” (http://www.youtube.com/watch?v=bPXVGQnJm0w&feature=related). Pesado, não? E sabe o que mais legal? É que a gente ainda pode curtir isso atualmente e, melhor, nada melhor do que ser um veterano do Vietnã, hein, John McCain? É uma pena que tu não pôde seguir o legado Bush e Baby Bush, né? Mas acho que esse filho de africano que nasceu no Hawaii (mesmo?) tá se saindo bem, tá todo mundo contente, não? Se a indústria petrolífera e a bélica tão bem quer dizer que Wall Street tá tranqüila pra brincar com sua mão invisível no mercado e, assim, governar o País e, logo, impor goela abaixo a Ordem Mundial pro resto da gentalha. Êlele! É isso aí, Obamão, já que tu citou o Tupac no discurso aí, que tal ouvir aquela que ele diz: “We got Money for wars but we got no money to feed the poor”. Sim, é senso comum, né?
          Contudo, pra quem comemora a morte e a destruição de famílias e de países parece tão idiota, tão ingênuo, tão sonhador escrever que se nós, macacos atraídos por luzes e status, pegássemos esse dinheiro sujo que é usado pra destruir esse planeta maldito e, simplesmente, acabássemos com a fome e a miséria... Mas não. Não foi isso que o Adam Smith ensinou, e o individualismo da nossa sociedade capitalista não permite. Ué, cadê a meritocracia nisso aí? Vagabundo tem que é trabalhar, querem ficar mamando na teta do estado??? Vamos viver num mundo sem fronteiras, assim o mercado vai dar conta de distribuir a renda, sim, sim, abram seus mercados. Hey, América Latrina, abra suas pernas! Deixa o Tio Sam implantar um regime legal pra elite de vocês, todos saem ganhando e, melhor, os comunistas não vão devorar nossos filhos branquinhos e católicos que tem um futuro brilhante à frente! É, that’s right, my man! A história se repete? Eu tava falando dos anos 70, será que mudou alguma coisa? UUUUUUH momento reflexivo, meu deus, quanta informação, que cara loco que tá escrevendo, o que tem a ver com a porra da morte do Obama? Digo, Osama! Hein?!
          É, vamos reestruturar essas idéias aí, qual foi, então, o grande problema e por que essa menção do Obama foi tão significativa? Bom, é um pacto. É um pacto com a indústria do sangue, porque afinal, a sede dos EUA não é só de petróleo, minha gente, sangue, sangue, sangue e cheiro de Nalpalm de manhã! QUE VIDA! É, as guerras criam heróis. O arco do triunfo em Paris, que grande monumento à nossa violentíssima civilização, lindíssima, quando forem visitar a cidade mais turística e falsa do mundo subam lá, depois passeam na Champs-Elysées e comprem, comprem, comprem porque a gente precisa e, digo mais, desperdicem, não tenham medo de desperdiçar, pois vivemos a época do novo e se não for novo, minha gente, não é bom. Falando nisso, de que ano é o seu carro? Sim, eu imagino, mas depois de três anos tem que trocar, senão além do pessoal do escritório começar a comentar sobre sua procrastinação econômica, você perderá dinheiro, seus bens materiais vão desvalorizar e nossa, dinheiro é tudo, tem coisa melhor do que papel-moeda? Ah bancos centrais, como eu vos invejo! Que instituições fantásticas, quase melhores que as bolsas, não são? Ah seilá, as bolsas tem aquele ambiente tão legal, parece uma festinha, cheia de números, gente vestida de maneira bizarra e gritando, nossa, nada me empolga mais do que seres humanos tão próximos de suas raízes símias. Isso aí, dance monkeys, dance!
          Em suma, o Obamão não escutou Beatles quando podia. Não morreu de tesão ao ouvir Revolution, ao vivo, com George Harrison destruindo uma guitarra totalmente distorcida. E, sobretudo, não entendeu nada do que o John Lennon tinha pra falar. Aliás, falem o que quiserem dos EUA, mas eu nunca vou perdoar e nunca deixarei de enquadrar entre seus principais crimes contra a humanidade o assassinato de um dos seres humanos mais fantasticamente lindos que já existiu. E, convenhamos, quem acredita na história de um fã psicopata, acredita, também, na teoria do Lee Oswald como único assassino de Kennedy? Ah lá vem teoria da conspiração. Sim, talvez, mas estudando a história dessa maldita civilização ocidental alguém duvida do poder da CIA e de toda inteligência dos EUA, eles tem o know-how do mau, gente (essa rima ficou ótima, né?) Sim, ficou. Então, lavagenzinha cerebral num pobre coitado, que tal? Olha aqui, se você não matar esse hippie nojento que fode aquela japonesa escrota, você sabe que as vozes de dentro de sua cabeça nunca vão calar e toda a sua família vai pagar a vida inteira pela sua incompetência. Pense no mundo que esse inglês drogado quer? Você consegue imaginar? É claro que não! Essa gente vive no mundo dos sonhos. Não existe paz. Isso é um conceito pra gente que acredita em bestialidades do tipo “love is all you need”, “power to the people” e, pior, mais infame: “give peace a chance”. Oh! Que ultraje! Paz? E o dinheiro? Nossas mulheres tem que comprar cosméticos pra quando a gente, bem vestidos com as nossas marcas favoritas, as levamos pra passear no nosso querido Mustang conversível. Vamos citar o Caetano Veloso de novo. Ele sabe muito. Aliás, ouçam, do último CD, a música Baía de Guantánamo e entrem no clima. Falando dos os homens que exercem seus podres poderes: queria gritar oitocentas mil vezes como são lindos os burgueses! E são. Lindíssimos – por fora.
          Chegando no final desse breve texto com idéias jogadas ao ar do jeito que me convém, eu posso afirmar que me sinto triste de estar acabando essa teoria dos três atos que culminaram no atestado de óbito de Obama. Sim, porque foi o Osama que matou o Obama. O assassinato do mentor do maior ataque terrorista em solo norte-americano, lá no Paquistão, nos evidencia a maior desilusão política do nosso agitado século XXI: o homem que tinha a faca e o queijo na mão, mas que precisa de mais, muito mais. E que, certamente, tá adorando essa época, ele foi eleito num período cheio de guerras, revoluções e gente ganhando dinheiro em cima de fome, desemprego e todo tipo de desigualdade. Que mágico, não? Me fascina essa nossa época. O Obama conseguiu pegar o Osama. E, logo depois, declarou que o mundo estava mais seguro sem esse fundamentalista do Bin Laden. E, mais, afirmou que seu fim deve ser saudado por todos aqueles que acreditam na paz e na dignidade humana. Lindo né? O problema é que a Al-Qaeda tem fim, o capitalismo não. Quantos mais Bin Ladens a gente vai agüentar? 

mercredi 4 mai 2011

fuego que llena el aire de chispas

Olá,

Serge Gainsbourg, muito prazer. 

Convido-os para adentrarem meu universo. 

Fui, outrora, cantor e compositor e vedette. A verdade é que fui o francês mais polêmico, sedutor e charmoso do século passado. Agora, no entanto, nesse convulsionado, demasiado êfemero e, quiçá, fascinante século XXI, encarno numa versão latino-americana que partilha com meu antigo eu apenas a (auto)definição de arder como um fogo que enche o ar de faíscas.  Não há dois fogos iguais nesse mar de foguinhos que é o mundo. É, mas, pera lá que tem muita história a ser contada. Isso aí, exatamente isso. Eu sou um contador de estórias, aham. Larguei Bardot e me joguei no mundo pra correr perigo em outro século, em outra época, longe da idealizada Paris e dos nunca-contentes franceses. Ou não tão longe, pelo menos agora.

Logo, convido-os para viver la vie en close, para rir do mistério pois, afinal, o que seria de mim se me levassem à sério? 

Não, não fui eu quem disse, foi o grande Paulo Leminski. É, esse garoto é bom com as rimas. Vai longe. 

Mas, voltando, vamos abrir as portas da percepção e tomar uma cápsula pra curtir esse admirável mundo novo. Vamos sair de trás da mesa do escritório, sair da toca, ir de encontro e ao encontro do outro. Sim, a alteridade. Vamos imaginar junto com o mágico John Lennon um outro mundo. Vamos sair da óptica capitalista que impõe uma vida cuja felicidade depende do ter e não do ser. E, por favor, não vamos temer o senso-comum, porém recusemos, sempre, os lugares-comuns. Um dos grandes problemas de todas mazelas desse fucked up world em que a gente vive é que, cada vez mais, as pessoas se afastam do essencial. 

Entonces, vamos lá. Sim, tem muitas palavras à nossa disposição para descrever muitas sensações, cores e amores que tão logo ali, pra além da janela. A arte, sim, a arte que existe para que a verdade não nos destrua. Vamos em busca da Arte. E de Marte, também, por que não? Isso! Vamos across the universe, pois, não sei quanto a vocês, mas, eu tenho certeza de que todos nós nascemos das estrelas. É, nós, macaquinhos atraídos por luzes, sorrisos falsos e, sobretudo, status. Ah o status, o statu quo que os meus maiores inimigos - os conservadores - tanto prezam e mantém através de suas artimanhas jurídicas e políticas a fim de oprimir os desprivilegiados e de mpor um valor de vida simplista e anti-humano: a ditadura. Qual? Não sei. Já vivemos várias enquanto humanidade e, acredito, ainda vivemos inúmeras. A viagem é que hoje existem dois tipos de partida, dois tipos de pessoas: conservadores e conversadores. Eu sou um conversador. E dos bons.

Então, vamos descobrir. Vamos sair da bolha. Vamos parar de viver em caixas, acordar numa caixa e pegar uma caixa pra ir pra uma caixa. Sair da óptica de dar, receber e obeder ordens e definir isso como trabalho. Vamos ir em busca da recusa de, depois de bater o ponto e encerrar o dia, afogar a tristeza e voltar - exausto - pro único refúgio universal e comum a todas as caixas.  Esse lugar onde se dorme e, dormindo, se vive a outra vida, uma vida onírica, utópica e que a cada manhã é aniquilada por obrigações mundanas que te enfiaram goela abaixo a fim de podar todos teus sentimentos. 

Digo, sem hesitar, que a beleza humana tá cada vez mais ameaçada de extinção, uma vez que - quoting hannah arendt - viver como ser distinto e singular entre iguais tem se tornado, de maneira drástica, uma utopia óbvia. E, convenhamos, cá entre nós, a gente sabe bem onde acabaram as nossas utopias. Ou elas voltaram lá pra sua ilha secar as lágrimas do thomas morus, ou elas foram embargadas economicamente e ficaram presas em Cuba, ou foram capturadas na bolívia e assassinadas à sangue-frio, ou morreram em Kingston depois de muitos baseados e partidas de futebol perto do mar e da paz, ou foram subvertidas pelos porcos da fazenda do George Orwell. Pra simplificar a avalanche de ou's, nossas utopias - na maioria dos casos - foram (e são) assassinadas pelos que mascam cacos de vidro no café da manhã e no almoço devoram sonhos, criam heróis que nada mais são que robôs que disseminam tristeza e dizimam o mundo. Esses que curtem Wagner, trajes de alta costura e, sobretudo, ganância e poder.

Assim, escrevo àqueles que vivem e se empolgam com a vida. Àqueles que descobriram que a esperança na humanidade - se é que tal existe - paira no ser humano e não na política e na "organização" desses em sociedades "civilizadas". Qual é, afinal, o legado da nossa civilização? Especular e fazer fortuna com guerra, fome e miséria? Se ilhar em meio ao caos urbano e viver como a pig in a cage on antibiotics? Por favor, ouçam o melhor álbum dos malditos anos 90, Ok Computer, e descubram o universo que um bando de genious freaks Radiohead nos oferece através de seu rock.

Já que entramos no fascinante domínio musical digo que escrevo, sobretudo, pra quem entende Jimi Hendrix. Não basta ouví-lo, desculpa. Sim, prepotência, eu sei, mas aqui não tem falsa modéstia. A experiência Hendrix vai além, muito além. É um fênomeno. Um ícone da geração contracultural mais encantadora que, no palco, botou fogo na sua guitarra. Sua maldita guitarra que ele sabia destroçar como ninguém. Os acordes desse cara eram tocados à velocidade da luz, e sua magia vinha direto da bandana na qual escorriam ácido e suor. E, assim, dava mais charme ainda e, de certo modo, protegia aquela cabeleira maravilhosa. Aquele cara é/foi a incarnação do rock e do black power ao mesmo tempo. E, momento segredo, deixa eu revelar o porquê de um cabelo assim: é pra proteger as idéias, sim, é mesmo. Mostra pra eles, Jimi, mostra! Vai lá, negão, e grita pra essa gente que when the power of love overcomes the love of power world will know peace.

Ridículo. Incomparavelmente genial.

Então, vem. Venham, venham comigo porque quien se acerca, se enciende.

E, assim, começamos com o mundo, pois como já disse o Drummond "tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo". Logo, se vocês tão comigo nessa, se partilham desse enorme tesão pela vida e por tudo o que esse mundo maluco tem a nos oferecer, ensinar e mostrar, venham comigo e comecem essa viagem com o texto do mar de fueguitos do Galeano, primeiro escrito da página inicial de El libro de los abrazos.
Um abraço e muitos livros!
Gainsbourg. 


"El mundo

Un hombre del pueblo de Neguá, en la costa de Colombia, pudo subir al alto cielo.
A la vuelta, contó. Dijo que había contemplado, desde allá arriba, la vida humana. Y dijo que somos un mar de fueguitos.
- El mundo es eso – reveló –. Un montón de gente, un mar de fueguitos.
Cada persona brilla com luz propia entre todas las demás. No hay dos fuegos iguales. Hay fuegos grandes y fuegos chicos y fuegos de todos los colores. Hay gente de fuego sereno, que ni se entera del viento, y gente de fuego loco, que llena el aire de chispas. Algunos fuegos, fuegos bobos, no alumbran ni queman; pero otros arden la vida con tantas ganas que no se puede mirarlos sin parpadear, y quien se acerca, se enciende.

Eduardo Galeano"