lundi 11 juillet 2011

com cometas no país de baurets


Palavras bonitas de (ins)piração:

Gurizada, diz o sábio cachaceiro que quem na linha anda o trem pega.

Acho que todo mundo aqui quer parar o trem.

Então, vamos lá. 
Terrorismo poético, muito prazer.

Vamos fazer soar o minuano interno que temos

E queimar de uma maneira que nem esse vento filhodaputa nos atrapalhe

Vamos mostrar que, afinal, o mundo é um mar de fueguitos e

Que assim como no lixão nasce flor

Aqui nesse calor a gente se esfria sem amor

Bora botar uma cor nessa cidade

Cor e amor.

Deslumbrado, vislumbro

Grandes momentos e Grandes presenças 

Eu não sou daqui, mas eu curto AFU esse lugar.

*da série, quando tu acha que tu tá escrevendo e sendo poético sobre tesão pela vida, às 4h35, ouvindo mutantes e pensando o quão foda eles são, é porque, realmente, tu tá muito feliz.

vendredi 1 juillet 2011

Sobre o pau de arara e a anistia e o estrangeiro (parte 2)



Voltemos ao Brasil. Brasil, pau de arara, anistia e o estrangeiro. Segunda parte. Jogo rápido e leitura levinha.

Brasil que, através de fuzis portados por mentes pequenas e manipuláveis, tirou a virgindade de jovens que eram mudos na democracia dos homens de farda. Sim, porque exisitia democracia na DitaduraMilitar, vocês acham que não? O MDB, por exemplo, eles votavam. Depois que o Parlamento voltou a funcionar, a eleição não era mais do Colégio Militar ou Junta ou Caralho a quatro. Era votado. E os parlamentares do Movimento Democrático Brasileiro (escrito assim até parece que eles não foram cúmplices) votavam, e na eleição do Ditador Figueiredo “Prendo e Arrebento quem for contra a redemocratização”, os políticos do MDB ouviam nos corredores do Congresso um mantra dos que eram ARENA - como o Sarney:

- Quem tem cu tem medo, vote figueredo!


                E eles tavam certíssimos mesmo. Quem tem cu tem medo. E quem sabe o que esses caras fizeram com o cu de muitos jovens que nem a gente, sabe que o medo mata. E sabe que o medo é o maior inimigo da democracia. O medo constrói tudo que há de errado no mundo. A cultura do medo é a mãe da cultura da violência. Quando o estudante de Medicina da UFRGS fugiu da província pra se meter no meio da porra do Araguaia com uma arma na mão, o que ele queria? O que ele pensava? Será que, realmente, ele pensava numa ditadura comunista aliada à URSS ou uma Cuba gigante no País Tropical? Ou será que ele pensava que só com essa atitude extrema ele ia poder ter seu grito escutado?

Grito que era de muitos. Grito da hoje Presidenta.

                E o nosso jornalismo que foi assassinado e até hoje continua, boa parte, em coma. Isso não é nem um pouco um apelo para sentimentalismos. Mas, vamos lá:  leitura corporal dos dois lados. Me respondam humanamente quem parece o lado que mais sofreu, já que os reacionários adoram falar do Sargento que o Lamarca assassinou. Primeira leitura corporal, Vlado e Pinochet, os dois no auge:

 Vladimir Herzog, jornalista, se apresenta ao DOPS um dia depois de ter sido convocado a depor. Chegou lá de manhã. Nunca mais voltou. E ainda teve sua foto "suicida" publicada. Essa aí de cima é como o a mídia brasileira vê a morte dele, especialmente, a FDP que cunhou o DITABRANDA. Como diria a sabedoria popular: no dos outros é refresco...


 O tirano mais maquiavélico das ditaduras militares. Responsável pelo assassinato e desaparecimento de mais de 30.000 cabeças que não pensavam do jeito que ele e os EUA queriam. O empresariado chileno o ama. Ele trouxe a estabilidade política que o país precisava. Afinal, o Allende aquele era um comedor de criancinhas, ia invadir a nossa casa e deitar no nosso sofá e não ia ter coca-cola  pra gurizada.

Olhem que tipo perigoso:

...

                O que as gurias do Herzog pensam desse desrespeito que é a Anistia? Que dinheiro que paga ter de estudar o assassinato de seu pai e saber que os assassinos dele viveram tri na boa depois do que fizeram. Não que eu queira o mesmo pra eles. Não quero sofrimento pra ninguém. A dor humana é igual. É universal. Não tem cor, não é vermelha, nem azul. Não é de esquerda nem de Direita nem de Centro. A dor não fica em cima do muro. A dor dói. E isso já é o bastante. Nada mais dói do que feridas abertas. Na América Latina a gente tem veias abertas.
                E Falando do Lamarca. Carlos Lamarca não é nada mais do que um próprio produto dos milicos. Ele treinava a população civil para combater a Guerrilha. O problema dele foi abrir a cabeça, foi desobedecer e fugir para combater pelo lado que ele sempre entendeu como o errado. O problema do Sargento que tava no caminho dele foi estar lá naquele momento. Estou sendo fatalista, sim. Mas, pra mim, os ditadores que impuseram essa merda foram os verdadeiros responsáveis pela aparição e desenvolvimento das Guerrilhas. O Lamarca pode ter atirado. A Dilma pode ter atirado. Mas quem matou, se mataram, não foram só eles. Eles puxaram um gatilho que nunca estaria na mão deles se existisse Liberdade. Simples assim. Idealista e simples. Ou alguém ia querer combater os agentes do DOPS e do DOI-CODI se pudessem reclamar, debater e se manifestar? 

 Aqueles que mascam cascos de vidro fazendo a barba e o bigode do Tio Sam, maior devorador de sonhos desse maldito planeta.


                No entanto, parece que nós a aceitamos. Aceitamos a ferida. Cada livro de história pode ser uma ferida aberta. Ler Presidente na frente do nome dos quatro malditos que comandaram o regime militar desse país me dá vontade de vomitar. Ler que o Allende se suicidou me faz vontade de gritar pro mundo a história do Chile. Allende, aliás, que, finalmente, vai poder sorrir lá na Ilha do Thomas Morus, onde ele certamente está, já que a Justiça Chilena ordenou sua exumação a fim de nova perícia para declarar causa da morte. 
“A isso é coisa de comunista! Querem ficar revivendo o passado, não sabem viver o futuro”. Aham, só fatos históricos construindo uma análise lógica. Allende, do partido socialista, no poder. Mudanças sociais no Chile. Contexto de Guerra Fria. Dinheiro do Tio Sam através da CIA e da Embaixada. Greve de caminhoneiros comprada. Pinochet comprado. Elite vendida. Exército Chileno atacando o Palácio da Moeda, sede da Presidência Chilena. Allende e seus companheiros, eleitos democraticamente e tirados no golpe do 11 de setembro de 1973, resistem até a última bala trancafiados no Palácio. Qual é a lógica do suicídio podendo-se morrer lutando como mártir?



Qualquer coincidência não é mera semelhança.

                A perícia de Salvador Allende que declarou o suicídio era de um médico. Esse médico trabalhava para o exército. O exército acabara de tomar o poder. Mesmo o médico sendo o cara mais professional do mundo, será que os milicos iam gritar aos quatro ventos que eles assassinaram um presidente? Ou é mais fácil dizer que ele se acovardou e se deu um tiro na cabeça? E, bom, aceitando essa hipótese, já que, realmente, na vida tudo é possível, por que raios o óculos dele ficou em tal estado de destruição se ele se suicidou com um tiro?


                E a gente tem uma enorme ferida aberta no Brasil. Uma que a gente não viu acontecer e não viu cicatrizar. Mas, como diria o John Lennon, “WAR IS OVER If you want it”. A nossa geração tem a faca e o queijo na mão para curar essas feridas. Não, Sr. Paulo Brossard, em 2010, revogar a Lei de Anistia não reestabelece o que deixou de existir em 1979. Não revogar é que reestabelece o que existiu a partir de 1964. É o que eu chamo a partir de agora de: Legalização do Pau de Arara. 
Sim, já que Legalização da Maconha já é assunto do século passado, tanto é que o Ternando Henrique Cardoso se meteu na parada. O cara que assumiu e disse “esqueçam tudo o que eu escrevi”. Que crédito. Acho que a Cannabis Sativa vai ficar mais amarga com o tempo vendo quem tá defendendo ela. 
             Mas, voltando, o STF – grande presença no Estado “democrático” de Direito – optou por não revogar a Lei de Anistia em 2010. Dá pra discutir muito sobre o ponto de vista jurídico. E eu, particularmente, acho que revogar ou não revogar está no cerne da questão, mas não seria exclusivamente prioritário. No Chile não revogaram, mas não reconhecem. Na Argentina revogaram. E no Uruguai acabaram de revogar. Ambos já fizeram muito mais do que o Brasil. E não falo aqui de passado. Eu to falando do futuro.

O Futuro bate à nossa porta. A juventude do passado foi guerreira. Admiro quem levou cacetada, quem apanhou, quem foi pego e quem desapareceu. Eles saíram às ruas. Essa foto abaixo, do Evandro Teixeira, é uma foto de um estudante de Medicina. Esse cidadão foi assassinado. Talvez essa foto registre os últimos segundos dele. Será que ele queria uma ditadura comunista no Brasil? Na boa, quem é que usa essa merda de desculpa? Ele queria direitos. Direitos Políticos. Direitos Humanos. Ele ganhou cacetadas dos homens de farda que devem ter destruído o crânio dele. Destruído as idéias e ideais de liberdade desse jovem. Eu olho pra ele e eu me vejo. Eu vejo o meu irmão, meus amigos, vejo um cidadão sendo morto pelo Estado. Estado que nunca reconheceu essa morte como o que ela é: violência política na sua expressão mais extrema, o monopólio da violência legítima, o Estado tendo direito de tirar a vida de alguém.


                E, infelizmente, eu tenho que dizer que acho que a família dele tem sorte. Pelo menos, eles viram o cadáver. Eles enterram o filho deles. Ele não tá desaparecido. Talvez a memória dele esteja desaparecendo, mas ele não. Ele tá na história. Eu imagino o que eu responderia ao governo se me oferecessem dinheiro como indenização por um filho desaparecido ou multilado. Eu tentaria não enlouquecer. Eu tentaria mesmo. E me esforçaria pra conseguir ser um ser humano maior e ir atrás de uma só coisa: a verdade. Não jogar a culpa no infeliz que sentou a porrada até a morte, ou que o botou no pau de arara ou que fez ele desaparecer. Desconstruir essa falácia de “são ordens”. Por que é que seres humanos se matam assim? 

Quem é que causa tudo isso? Quem são os verdadeiros culpados e qual seria a resolução ideal?
                
             Não sou marxista, nem entreguista. Nesse caso não sou de esquerda nem de Direita. Falando de Anistia, de Ditadura Militar, do nosso passado. Falando de Memória e Justiça. Falando de tudo isso, eu sou pela verdade. A verdade somente. Não importa quem diga. Não importa que digam que não existe ou que queimaram os arquivos. Quem viveu sabe o que o aconteceu. E muita gente que viveu tá viva. Eu só queria que o meu país tivesse coragem e que esses cidadãos se mostrassem valorosos e corajosos. Pois, como já diz o hino: verás que o filho teu não foge a luta.


Infelizmente, o filho tá fugindo da luta. O pai já fugiu e o avô matou ou morreu (ou não tava nem aí).
               
                Não me importo com essa política que se faz hoje. Eles não me representam. Eu não quero mais aceitar esse sistema democrático que me oferecem. Não quero o Jobim representando um Velho Brasil Oligárquico e injusto falando em meu nome. Não quero ouvir que os milicos fizeram queima de arquivo. Que não tem mais nada da Ditadura. Não tem mais nada? Eu tenho certeza que mesmo não sobrando nenhuma folha de papel, a memória é viva. Tem muita gente que tem o que falar.
Sabe o que eu quero sendo um jovem utópico que sente um estrangeiro? Eu quero que aprendam alguma coisa com o ser humano mais extraordinário do século XX: Madiba, mais conhecido como Nelson Mandela. Se eu pudesse, eu daria um exemplar da autobiografia do Mandela junto com livros explicando a justiça de transicão pós-apartheid. Os Comitês de Verdade e Reconciliação. A anistia através do depoimento que culmina com o perdão. Anistia através da Verdade. (Quem se interessa no assunto vale a pena. Desmond Tutu, porta voz do Mandela nos 27 anos de prisão: http://www.youtube.com/watch?v=g6tJQRxxGTM&feature=related). Em setembro passado eu estive num congresso em Oxford organizado pelo Ministério da Justiça, Comissão de Anisita e Centro de Estudos Brasileiros de Oxford. Justiça de transição comparada com o caso brasileiro. Lá estavam cabeças que trabalham com o assunto. Que já trabalharam com África do Sul, Uganda, Ruanda, Sérvia, Chile, Argentina, Uruguai e seilá mais o quê. Sei que existe consenso. E o consenso é que qualquer positivização jurídica imposta por regimes de exceção afim de anistiá-los é - pela jurisprudência internacional de direitos humanos - ilegítima. 

Então, não quero uma merda de Presidenta que não tem culhões pra ir atrás da verdade.

Afinal, quem torturou Dilma Rousseff?


                O nosso país tá acomodado. Foda-se o crescimento e desenvolvimento. De certa forma, isso nos cega, nos impede de ver que estamos vivendo uma utopia de consenso político RIDÍCULA. Que não existe e nunca vai existir. Não é só porque o Governo Lula teve a presença de Sarney e Collor que a gente vai se rebaixar. Vão me dizer que é assim que se faz política, sim, é bem assim mesmo. Os cartolas da política brasileira são tão poderosos que eles criam as alianças que quiserem. Dêem um tempo pro tempo. No futuro vai ter tucano marxista e petista neoliberal e pinochetista. Por eles rolaria até rastafári que se alia com nazista. Contudo, assim que se faz a política do século passado. Outra época. Nós estamos no século XXI. Nós somos outra geração. Se nos negamos a aceitar isso não podemos nos enquadrar, temos que criticar. Tem que ser o do contra, o cara chato, o mala, o que não cala a boca. Porque, no fim das contas, tudo se esquece né. Afinal, o Lula foi sindicalista e, por isso, preso na Ditadura. O Sarney foi o presidente redemocrático dos milicos representante da velha política Coronelista à qual o Lula sempre foi oposto. O Lula tava morrendo de fome no Sertão e o Sarney tava comprando fazenda e assassinando a língua portuguesa achando que ele sabe escrever. E o Collor, bom, o Collor devia tá ouvindo a Jovem Guarda e fumando na beira da praia lá no Nordeste. Mas fumando sem tragar hein.

...

                É, uma vez eu li uma frase com a qual eu me identifiquei afu: a gente se defende sorrindo. O que me parece é que quando eu começo a ficar amargo e enveredar por um caminho cético, me vejo obrigado a me apoiar num humor irônico.
                É que hoje tá na moda o que eu não curto. Não sou de ficar em cima do muro. Não vou engolir um passado que não passou. Não vou dormir com a social-democracia que é maior falácia da história. Não existe consenso político algum quanto à memória de um país. Só existe a verdade. E Verdade não vem sozinha, ela vem com Justiça. Não vou perdoar o Imperdoável. Não quero talião tampouco. Eu só quero a verdade. Vinda da boca de quem calava. Da boca de quem ainda nos cala. Afinal, o que temer numa democracia?

Mas como eu disse no começo do texto, eu sou um estrangeiro.


No exterior, eu até me sinto brasileiro. Tinha a verde-amarela na parede do meu quarto. Só que aqui nesse país eu me sinto um completo estrangeiro.

Voltar, afinal, tem uma conotação de retrocesso ou é só impressão minha?

mercredi 29 juin 2011

Sobre o pau de arara e a anistia e o estrangeiro (parte 1)


Anistia

Ampla, geral e irrestrita.

Pau de Arara

Amplo, general e restrito.

O Estrangeiro

Pessoa que não é natural do país onde se acha, e de cuja cidadania não goza.

                Começo com um breve Mea Culpa. Ao longo desse texto vou citar duas figuras que estudaram no mesmo lugar em que eu estudo atualmente, a Faculdade de Direito da UFRGS, e que representam o pensamento ao qual eu me baterei a vida inteira contra: o reacionarismo jurídico a fim de manter o status quo dos donos do poder que eles representam. É isso, eles, um ainda colunista do jornal mais representativo da Imprensa Porca e de viés Golpista (PIG) e o outro um alto funcionário do Governo Lula e, infelizmente, do Governo da Vilma também.


          Essa terra me faz sentir um estrangeiro. Sem bairrismo, mas chegar no Rio Grande, talvez, seja menos pior, já que o Sul tá longe do olho do furacão. É uma província né. Não quer dizer que aqui, ao chutar uma árvore, não vão cair amantes do Bolsonário. Muito pelo contrário, aqui tem um monte de gaúcho macho tchê, que não vota em terrorista e que quer se separar das terras do norte que são uma verdadeira barbaridade! Nós é que somos civilizados, aliás, sirvam nossas façanhas de modelo à toda terra, se todos tivessem seguido o nosso exemplo no Massacre de Porongos a gente não ia ter que ter esse sistema racista de cotas na Universidade Federal!

Que polêmica...

                Como disse, escrever e ler sobre a vida do Bom Fim é fácil. Vamos pros choques elétricos. Ponham aí na caixa um som:  “O Que Será (À Flor da Pele)”, de Chico Buarque e tentem entender quantos Volts estão à flor da pele. E imaginem todos os cidadãos brasileiros que, independente de cor, credo e cheiro, sofreram isso que o Chico está cantando. Sofreram nos porões escuros de espaços públicos sustentados com o dinheiro do contribuinte. Aliás, quem é que paga (e pagou) o salário dos milicos? Legal isso, não? A própria Dilma e a família dela pagavam os caras que torturaram ela. E agora? Agora ela é chefe deles! Como diria o Cartola: o mundo é um moinho é vai triturar teus sonhos tão mesquinhos.

                Eu sonhava com outra Dilma. Sonhava com a Vilma ou Jesse ou Amanda. Uma que não era a Presidenta. Uma Dilma que não tinha se transformado – e não falo só das plásticas – numa mulher que não tem coragem. Não consegue nem expor um argumento tão simples quanto a defesa da descriminalização do aborto. País hipócrita esse. Aborto é só pra rico. E a Presidenta faz vista grossa porque os mesmos pilantras que incitam à massa a ir às ruas por Jesus e pelo Nascituro vão, caso o acaso deixe, poder pagar o aborto clandestino dos seus filhos brancos (e doutrinados). Mas né, outro assunto pra outro post.

                Esse post está entupido de fotos. Fotos que vão além de uma representação de época. Vamos olhar essas fotos e fazer uma análise simples: olhar o olhar. Vamos através da mais expressiva porta de relação humana, os olhos, imaginar o que se pensava quando tiraram a foto e pararam o tempo. Qual é o sentimento que esse olhar passa? Sim, é o mesmo sentimento que o Estrangeiro tá sentindo. Então, depois dessa breve intro. Vamos homenagear o Estrangeiro e a Poesia. Baudelaire, coitado, traduzido por mim, já que esse mundo inculto não sabe que assim como o verdadeiro Rock’n’roll é em inglês, o cinema e a literatura são em francês (ou em russo! Mas daí é foda pra caralho...)

Vamos para “O Estrangeiro”, de Charles Baudelaire.

L’Étranger

- Diga, homem enigmático, de quem gosta mais?  
De seu pai, de sua mãe, de sua irmã ou de seu irmão?

- Não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.

- Seus Amigos?

- Aí você se vale de uma palavra cujo sentido até hoje eu desconheço.

- Sua Pátria?

- Ignoro sob qual latitude está situada.

- A Beleza?

- Eu gostaria dela Feliz, Deusa e Imortal

- O ouro?

- O odeio como você odeia a Deus.

- Ah! O que amas tu, então, extraordinário estrangeiro?

- Eu amo as nuvens... as nuvens que passam... lá longe...  as maravilhosas nuvens!


Vamos começar, pois, a hard rain is gonna a-fall como disse o mestre Dylan.

              Até 2011, o único presidente brasileiro que deixou o poder aplaudido, realmente, pela população brasileira foi Getúlio Vargas, após se suicidar. A cena do Lula deixando o Palácio da Alvorada é um marco histórico emocionante. Como diria o Barack Obama: “That’s my man, I love this guy, he’s the most popular politician on earth.” O país outrora governado pela e para elite, depois de um ex-metalúrgico, terá uma presidenta, também “de esquerda”. Uma ex-combatente da ditadura militar, que pegou em armas, foi presa e torturada para que entregasse companheiros. Teve até CPI pra saber se Dilma Rousseff tinha ou não agüentado o que não tem medida, nem nunca terá. Eu ia falar que, no que diz respeito à memória, o Lula não só nada fez, como também baixou a cabeça para o Exército e para a Igreja. Mas, seria injusto, já que, talvez, se ele tivesse sido mão-de-ferro com o PNDH, a eleição da Dilma, la dauphine de Lula, fosse comprometida. O “sapo barbudo” não é bobo.
                Contudo, em 2010 o Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por causa da Lei de Anistia. Sobretudo, na questão da Guerrilha do Araguaia. Em 2010, também, a Argentina condenou o ex-Ditador, Jorge Videla, à prisão perpétua. E no começo desse ano, o Uruguai, revogou a sua Lei de Anistia.
Contrastes.

Resta a pergunta: O que temer numa democracia?  
                 
           Na América Latina, os homens de farda que a fizeram o mesmo no Chile e na Argentina foram contrariados pela Justiça. Sim, com J maiúsculo, pois mesmo que tenha vindo de alguma corte, tenha transitado em julgado, tenha sido escrita no melhor do juridiquês, a anistia é fácil, pois ela é contra a história da humanidade. A anistia que se construiu na América Latina é uma ofensa à história dos países e à história da humanidade. A anistia tem que se conquistar. Mesmo o sistema sendo contra. O sistema era contra as mães da praça de maio que agora são avós. Isso as impediu de ir fazer panelaço?
                No Brasil a gente não se manifestou antes porque nós aceitamos dinheiro. Nem todos aceitaram, é verdade. Alguns não podia evitar. Outros eram obrigados devido a seqüelas que o impediram de desenvolver uma vida digna na qual se sustenta do seu suor. Sim, muitos ficaram loucos com as torturas psicológicas. Dizem que o próprio Geraldo Vandré foi preso num alçapão onde o deixaram sentado ao chão, amarrado, com uma torneira de água sob sua cabeça que pingava lentamente. Na sala tinha só um relógio e a escuridão. Às vezes um agente do mal entrava, o interrogava, o espancava e antes de sair desajustava o relógio afim de que ele perdesse a noção de tudo que estava acontecendo. Enfim, dá pra escrever um livro sobre isso, aliás, já tem né, quem quiser não dormir à noite pegue um “Brasil nunca mais”. Voltando às indenizações. Quem aceitou sofreu a subversão da memória histórica para uma cura pecuniária. O capitalismo achando que dinheiro é a resposta pra tudo. Dinheiro não cura nada.


Algum dinheiro cura a dor dessa mulher?

O que será que ela quer em relação à memória e à justiça do país?

       Não enfrentar o nosso passado é um descaso à história. À minha história, à história dessa mulher e à história de quem concorda com o que eu to escrevendo. O que o Estado Democrático de Direito Brasileiro quer negando o seu passado? “Marca de tortura não passa” dizia o torturador. Pra ele passou, ele deve ter continuado na polícia. Num cargo alto ainda, deve ser Policial Federal em Goiás ou no Acre. Mas, enfim, o que a gente tá vendo é o que estou cunhando de Homenagem ao Pau de Arara. A gente não só inventou torturas, como também, nós as exportamos para as outras Ditaduras Militares. Na UFMG os milicos assistiram aulas de tortura com choques elétricos ministradas por um agente da CIA. História mais verídica do que a de Rose Nogueira. Esse cara foi preso, julgado e executado pelos Tupamaros, guerrilha anti-ditadura do Uruguai. Guerrilha, a qual fazia parte o último presidente. Engraçado é que ali no Uruguai eles reconhecem Tabaré Vazquez como um cara que pegou em armas enquanto oposição política à ditadura militar. A Vilma é terrorista.

Olha que cara de terrorista mesmo. Eu também a enquadria como subversiva. Parece perigosíssima...

Eu imagino se a Dilma vê essa foto. E imagino o que ela pensa. Não deve ser fácil. Ela sofreu o Pau de Arara e o Governo dela está Legalizando a tortura. 
Ou seja, antes da maconha nos legalizamos o Pau de Arara.

“Gurizada, pro futuro dá pra torturar legal hein! Estilo vai que não dá nada!”

O Brasil que fez isso, ensinou, torturou, fuzilou, estuprou a democracia. E esse Brasil nunca vai pedir desculpa pro Brasil dos nossos filhos?


Segue, em breve...

dimanche 26 juin 2011

Sobre o fogo de porto alegre

meu porto.

em alguns momentos da vida eu aderi àquela de "porto vá lá, mas por que alegre?", porém, todavia, entretanto, a província tá do lado esquerdo do peito de uma maneira latente e maciça. como tudo que tu ama nessa vida, tu acaba odiando, só depois de dar tempo pro tempo tu consegue digerir essas relações conturbadas que nós macaquinhos temos com o nosso galho. nosso habitat natural, onde vivemos e nos portamos como animais diariamente.

só que, depois de um dia - cheguei ontem, tá ligado? - eu posso dizer que eu tenho um amor pleno, enorme e infinito pelos animais que habitam aqui comigo e que vivem se alimentando de arte e de amor, vivendo uma loucura muito lúcida e responsável para com o devir e, enfim, ardendo de um fogo bonito.

eu acho que porto alegre arde de um fogo bonito.

acho que a chama já foi mais forte num passado recente. mas isso quer dizer que ela não pode arder loucamente de novo? gritando pro mundo que aqui, no sul da américa do sul, tem um monte de cabeças que tem o que gritar.

o vulcão aquele recém entrou em erupção. uns pensam nas cinzas que tão pelo ar. eu to pensando na efervescência desse século XXI. a natureza tá aí gritando pra que todo mundo arda assim como os acampados nas praças ao redor do planeta estão.

afinal, um outro mundo é possível ou não?

esse mundo de merda tá grávido de um muito melhor?

ou a juventude não quer saber de nada além de virar a noite no Ocidente e abrir a Lanchera às 6h15 comendo pastelzinho de carne?

jeudi 23 juin 2011

Sobre estar de volta.


"Bom, no último ano da minha vida eu vivi muitas despedidas. Mas, certamente, a que mais me marcou foi a do dia 14 de novembro, em Paris. No final de agosto do ano passado eu fui morar na França por um ano e o Bruno foi pra Bélgica pra um estágio de 3 meses. Evidentemente, ao deixar Porto Alegre eu dei um saudoso e carinhoso abraço nele, mas, por ter certeza que a gente ia se rever na Europa, não dei muito espaço pra saudades. Nem pensei como ia ser lidar com isso. Sabia que a gente estaria relativamente perto e, assim, eu não estaria sem cais no Velho Continente.

Em novembro, então, a gente passou um feriadão juntos na cidade em que a gente cresceu e que além de raízes nos deixou algumas cicatrizes. Quatro dias em Paris com o meu irmão foram o bastante pra reviver todo o amor que move essa família. No domingo dia 14, 3 dias antes do meu aniversário, quando ele partiu, eu, finalmente, me vi sozinho na Europa. Na nada acolhedora Gare du Nord, meu querido irmão se despediu de mim. Ele ainda tinha um mês longe de casa. Eu ainda tinha uns bons 8 meses.

O que importa nessa história é que, depois de se dar tchau, eu saí da estação para pegar o metrô. E Saí chorando, obviamente. A saudade do Bruno era saudade de quase todos que estão aqui. Saudade das raízes. Mas, enfim, às vezes, o universo nos manda pequenas mensagens e naquela noite fria em Paris, sozinho no caos do metrô eu li uma frase que me confortou: I have loved the stars too foundly to be fearful of the night.

Acho que essa mensagem diz muito. Por mais que a vida nos separe, no fundo do coração, a gente sempre vai estar junto.

Então, ao Bruno, eu declaro o meu mais profundo amor e a mais pura felicidade de estar de volta. 

Desejo a todos uma ótima noite."


Como diria Paulo Leminski: haja hoje para tanto ontem.

O INEFÁVEL

                                                                                          Pra Te Lembrar

Que nos avenirs et souvenirs marchent ensemble jusqu’on s’épuise de Vivre la Vie. Et qu’un jour on puisse voir que nos “Au revoir ” étaient en fait des “A bientôt” qu’on cachait pour le plaisir du Mystère”
L'INEFFABLE
                                                                                           
O Inefável é o que não se pode exprimir. 

É encantador, delicioso, sublime. 

O Inefável é o Amor. 

É a "synesthesia",  a união aliada à sensação. 

É a vida entre rosas. 

É o tempo parado a partir de uma fotografia. 

É a fotógrafa e o fotografado. 

É o charme em todas as suas instâncias.

Juntos eles não se completavam, mas completavam os segundos que passavam juntos.

Juntos viveram o efêmero e o inefável

O Amor. 

Amor que agora é
S A U D A D E

dimanche 19 juin 2011

poeminha do adeus à europa

para todos aqueles e aquelas

que cruzaram meu caminho

eu desejo voltar a ver enquanto passarinho

agora eu volto ao meu ninho

onde me aguarda muito carinho

mamãe vai poder me ter pertinho

o último amor vai querer me dar um beijinho

no primeiro domingo em família terá um churrasquinho

com a gurizada eu vou tomar um choppinho

depois assistir o greminho e secar o timinho

e enfim

com os meus

eu vou novamente trilhar meu caminho

à caminho da beira do laguinho

pra fumar umzinho

e ver 

devagarinho

o sol voltando pro seu ninho