mercredi 29 juin 2011

Sobre o pau de arara e a anistia e o estrangeiro (parte 1)


Anistia

Ampla, geral e irrestrita.

Pau de Arara

Amplo, general e restrito.

O Estrangeiro

Pessoa que não é natural do país onde se acha, e de cuja cidadania não goza.

                Começo com um breve Mea Culpa. Ao longo desse texto vou citar duas figuras que estudaram no mesmo lugar em que eu estudo atualmente, a Faculdade de Direito da UFRGS, e que representam o pensamento ao qual eu me baterei a vida inteira contra: o reacionarismo jurídico a fim de manter o status quo dos donos do poder que eles representam. É isso, eles, um ainda colunista do jornal mais representativo da Imprensa Porca e de viés Golpista (PIG) e o outro um alto funcionário do Governo Lula e, infelizmente, do Governo da Vilma também.


          Essa terra me faz sentir um estrangeiro. Sem bairrismo, mas chegar no Rio Grande, talvez, seja menos pior, já que o Sul tá longe do olho do furacão. É uma província né. Não quer dizer que aqui, ao chutar uma árvore, não vão cair amantes do Bolsonário. Muito pelo contrário, aqui tem um monte de gaúcho macho tchê, que não vota em terrorista e que quer se separar das terras do norte que são uma verdadeira barbaridade! Nós é que somos civilizados, aliás, sirvam nossas façanhas de modelo à toda terra, se todos tivessem seguido o nosso exemplo no Massacre de Porongos a gente não ia ter que ter esse sistema racista de cotas na Universidade Federal!

Que polêmica...

                Como disse, escrever e ler sobre a vida do Bom Fim é fácil. Vamos pros choques elétricos. Ponham aí na caixa um som:  “O Que Será (À Flor da Pele)”, de Chico Buarque e tentem entender quantos Volts estão à flor da pele. E imaginem todos os cidadãos brasileiros que, independente de cor, credo e cheiro, sofreram isso que o Chico está cantando. Sofreram nos porões escuros de espaços públicos sustentados com o dinheiro do contribuinte. Aliás, quem é que paga (e pagou) o salário dos milicos? Legal isso, não? A própria Dilma e a família dela pagavam os caras que torturaram ela. E agora? Agora ela é chefe deles! Como diria o Cartola: o mundo é um moinho é vai triturar teus sonhos tão mesquinhos.

                Eu sonhava com outra Dilma. Sonhava com a Vilma ou Jesse ou Amanda. Uma que não era a Presidenta. Uma Dilma que não tinha se transformado – e não falo só das plásticas – numa mulher que não tem coragem. Não consegue nem expor um argumento tão simples quanto a defesa da descriminalização do aborto. País hipócrita esse. Aborto é só pra rico. E a Presidenta faz vista grossa porque os mesmos pilantras que incitam à massa a ir às ruas por Jesus e pelo Nascituro vão, caso o acaso deixe, poder pagar o aborto clandestino dos seus filhos brancos (e doutrinados). Mas né, outro assunto pra outro post.

                Esse post está entupido de fotos. Fotos que vão além de uma representação de época. Vamos olhar essas fotos e fazer uma análise simples: olhar o olhar. Vamos através da mais expressiva porta de relação humana, os olhos, imaginar o que se pensava quando tiraram a foto e pararam o tempo. Qual é o sentimento que esse olhar passa? Sim, é o mesmo sentimento que o Estrangeiro tá sentindo. Então, depois dessa breve intro. Vamos homenagear o Estrangeiro e a Poesia. Baudelaire, coitado, traduzido por mim, já que esse mundo inculto não sabe que assim como o verdadeiro Rock’n’roll é em inglês, o cinema e a literatura são em francês (ou em russo! Mas daí é foda pra caralho...)

Vamos para “O Estrangeiro”, de Charles Baudelaire.

L’Étranger

- Diga, homem enigmático, de quem gosta mais?  
De seu pai, de sua mãe, de sua irmã ou de seu irmão?

- Não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.

- Seus Amigos?

- Aí você se vale de uma palavra cujo sentido até hoje eu desconheço.

- Sua Pátria?

- Ignoro sob qual latitude está situada.

- A Beleza?

- Eu gostaria dela Feliz, Deusa e Imortal

- O ouro?

- O odeio como você odeia a Deus.

- Ah! O que amas tu, então, extraordinário estrangeiro?

- Eu amo as nuvens... as nuvens que passam... lá longe...  as maravilhosas nuvens!


Vamos começar, pois, a hard rain is gonna a-fall como disse o mestre Dylan.

              Até 2011, o único presidente brasileiro que deixou o poder aplaudido, realmente, pela população brasileira foi Getúlio Vargas, após se suicidar. A cena do Lula deixando o Palácio da Alvorada é um marco histórico emocionante. Como diria o Barack Obama: “That’s my man, I love this guy, he’s the most popular politician on earth.” O país outrora governado pela e para elite, depois de um ex-metalúrgico, terá uma presidenta, também “de esquerda”. Uma ex-combatente da ditadura militar, que pegou em armas, foi presa e torturada para que entregasse companheiros. Teve até CPI pra saber se Dilma Rousseff tinha ou não agüentado o que não tem medida, nem nunca terá. Eu ia falar que, no que diz respeito à memória, o Lula não só nada fez, como também baixou a cabeça para o Exército e para a Igreja. Mas, seria injusto, já que, talvez, se ele tivesse sido mão-de-ferro com o PNDH, a eleição da Dilma, la dauphine de Lula, fosse comprometida. O “sapo barbudo” não é bobo.
                Contudo, em 2010 o Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por causa da Lei de Anistia. Sobretudo, na questão da Guerrilha do Araguaia. Em 2010, também, a Argentina condenou o ex-Ditador, Jorge Videla, à prisão perpétua. E no começo desse ano, o Uruguai, revogou a sua Lei de Anistia.
Contrastes.

Resta a pergunta: O que temer numa democracia?  
                 
           Na América Latina, os homens de farda que a fizeram o mesmo no Chile e na Argentina foram contrariados pela Justiça. Sim, com J maiúsculo, pois mesmo que tenha vindo de alguma corte, tenha transitado em julgado, tenha sido escrita no melhor do juridiquês, a anistia é fácil, pois ela é contra a história da humanidade. A anistia que se construiu na América Latina é uma ofensa à história dos países e à história da humanidade. A anistia tem que se conquistar. Mesmo o sistema sendo contra. O sistema era contra as mães da praça de maio que agora são avós. Isso as impediu de ir fazer panelaço?
                No Brasil a gente não se manifestou antes porque nós aceitamos dinheiro. Nem todos aceitaram, é verdade. Alguns não podia evitar. Outros eram obrigados devido a seqüelas que o impediram de desenvolver uma vida digna na qual se sustenta do seu suor. Sim, muitos ficaram loucos com as torturas psicológicas. Dizem que o próprio Geraldo Vandré foi preso num alçapão onde o deixaram sentado ao chão, amarrado, com uma torneira de água sob sua cabeça que pingava lentamente. Na sala tinha só um relógio e a escuridão. Às vezes um agente do mal entrava, o interrogava, o espancava e antes de sair desajustava o relógio afim de que ele perdesse a noção de tudo que estava acontecendo. Enfim, dá pra escrever um livro sobre isso, aliás, já tem né, quem quiser não dormir à noite pegue um “Brasil nunca mais”. Voltando às indenizações. Quem aceitou sofreu a subversão da memória histórica para uma cura pecuniária. O capitalismo achando que dinheiro é a resposta pra tudo. Dinheiro não cura nada.


Algum dinheiro cura a dor dessa mulher?

O que será que ela quer em relação à memória e à justiça do país?

       Não enfrentar o nosso passado é um descaso à história. À minha história, à história dessa mulher e à história de quem concorda com o que eu to escrevendo. O que o Estado Democrático de Direito Brasileiro quer negando o seu passado? “Marca de tortura não passa” dizia o torturador. Pra ele passou, ele deve ter continuado na polícia. Num cargo alto ainda, deve ser Policial Federal em Goiás ou no Acre. Mas, enfim, o que a gente tá vendo é o que estou cunhando de Homenagem ao Pau de Arara. A gente não só inventou torturas, como também, nós as exportamos para as outras Ditaduras Militares. Na UFMG os milicos assistiram aulas de tortura com choques elétricos ministradas por um agente da CIA. História mais verídica do que a de Rose Nogueira. Esse cara foi preso, julgado e executado pelos Tupamaros, guerrilha anti-ditadura do Uruguai. Guerrilha, a qual fazia parte o último presidente. Engraçado é que ali no Uruguai eles reconhecem Tabaré Vazquez como um cara que pegou em armas enquanto oposição política à ditadura militar. A Vilma é terrorista.

Olha que cara de terrorista mesmo. Eu também a enquadria como subversiva. Parece perigosíssima...

Eu imagino se a Dilma vê essa foto. E imagino o que ela pensa. Não deve ser fácil. Ela sofreu o Pau de Arara e o Governo dela está Legalizando a tortura. 
Ou seja, antes da maconha nos legalizamos o Pau de Arara.

“Gurizada, pro futuro dá pra torturar legal hein! Estilo vai que não dá nada!”

O Brasil que fez isso, ensinou, torturou, fuzilou, estuprou a democracia. E esse Brasil nunca vai pedir desculpa pro Brasil dos nossos filhos?


Segue, em breve...

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