mercredi 4 mai 2011

fuego que llena el aire de chispas

Olá,

Serge Gainsbourg, muito prazer. 

Convido-os para adentrarem meu universo. 

Fui, outrora, cantor e compositor e vedette. A verdade é que fui o francês mais polêmico, sedutor e charmoso do século passado. Agora, no entanto, nesse convulsionado, demasiado êfemero e, quiçá, fascinante século XXI, encarno numa versão latino-americana que partilha com meu antigo eu apenas a (auto)definição de arder como um fogo que enche o ar de faíscas.  Não há dois fogos iguais nesse mar de foguinhos que é o mundo. É, mas, pera lá que tem muita história a ser contada. Isso aí, exatamente isso. Eu sou um contador de estórias, aham. Larguei Bardot e me joguei no mundo pra correr perigo em outro século, em outra época, longe da idealizada Paris e dos nunca-contentes franceses. Ou não tão longe, pelo menos agora.

Logo, convido-os para viver la vie en close, para rir do mistério pois, afinal, o que seria de mim se me levassem à sério? 

Não, não fui eu quem disse, foi o grande Paulo Leminski. É, esse garoto é bom com as rimas. Vai longe. 

Mas, voltando, vamos abrir as portas da percepção e tomar uma cápsula pra curtir esse admirável mundo novo. Vamos sair de trás da mesa do escritório, sair da toca, ir de encontro e ao encontro do outro. Sim, a alteridade. Vamos imaginar junto com o mágico John Lennon um outro mundo. Vamos sair da óptica capitalista que impõe uma vida cuja felicidade depende do ter e não do ser. E, por favor, não vamos temer o senso-comum, porém recusemos, sempre, os lugares-comuns. Um dos grandes problemas de todas mazelas desse fucked up world em que a gente vive é que, cada vez mais, as pessoas se afastam do essencial. 

Entonces, vamos lá. Sim, tem muitas palavras à nossa disposição para descrever muitas sensações, cores e amores que tão logo ali, pra além da janela. A arte, sim, a arte que existe para que a verdade não nos destrua. Vamos em busca da Arte. E de Marte, também, por que não? Isso! Vamos across the universe, pois, não sei quanto a vocês, mas, eu tenho certeza de que todos nós nascemos das estrelas. É, nós, macaquinhos atraídos por luzes, sorrisos falsos e, sobretudo, status. Ah o status, o statu quo que os meus maiores inimigos - os conservadores - tanto prezam e mantém através de suas artimanhas jurídicas e políticas a fim de oprimir os desprivilegiados e de mpor um valor de vida simplista e anti-humano: a ditadura. Qual? Não sei. Já vivemos várias enquanto humanidade e, acredito, ainda vivemos inúmeras. A viagem é que hoje existem dois tipos de partida, dois tipos de pessoas: conservadores e conversadores. Eu sou um conversador. E dos bons.

Então, vamos descobrir. Vamos sair da bolha. Vamos parar de viver em caixas, acordar numa caixa e pegar uma caixa pra ir pra uma caixa. Sair da óptica de dar, receber e obeder ordens e definir isso como trabalho. Vamos ir em busca da recusa de, depois de bater o ponto e encerrar o dia, afogar a tristeza e voltar - exausto - pro único refúgio universal e comum a todas as caixas.  Esse lugar onde se dorme e, dormindo, se vive a outra vida, uma vida onírica, utópica e que a cada manhã é aniquilada por obrigações mundanas que te enfiaram goela abaixo a fim de podar todos teus sentimentos. 

Digo, sem hesitar, que a beleza humana tá cada vez mais ameaçada de extinção, uma vez que - quoting hannah arendt - viver como ser distinto e singular entre iguais tem se tornado, de maneira drástica, uma utopia óbvia. E, convenhamos, cá entre nós, a gente sabe bem onde acabaram as nossas utopias. Ou elas voltaram lá pra sua ilha secar as lágrimas do thomas morus, ou elas foram embargadas economicamente e ficaram presas em Cuba, ou foram capturadas na bolívia e assassinadas à sangue-frio, ou morreram em Kingston depois de muitos baseados e partidas de futebol perto do mar e da paz, ou foram subvertidas pelos porcos da fazenda do George Orwell. Pra simplificar a avalanche de ou's, nossas utopias - na maioria dos casos - foram (e são) assassinadas pelos que mascam cacos de vidro no café da manhã e no almoço devoram sonhos, criam heróis que nada mais são que robôs que disseminam tristeza e dizimam o mundo. Esses que curtem Wagner, trajes de alta costura e, sobretudo, ganância e poder.

Assim, escrevo àqueles que vivem e se empolgam com a vida. Àqueles que descobriram que a esperança na humanidade - se é que tal existe - paira no ser humano e não na política e na "organização" desses em sociedades "civilizadas". Qual é, afinal, o legado da nossa civilização? Especular e fazer fortuna com guerra, fome e miséria? Se ilhar em meio ao caos urbano e viver como a pig in a cage on antibiotics? Por favor, ouçam o melhor álbum dos malditos anos 90, Ok Computer, e descubram o universo que um bando de genious freaks Radiohead nos oferece através de seu rock.

Já que entramos no fascinante domínio musical digo que escrevo, sobretudo, pra quem entende Jimi Hendrix. Não basta ouví-lo, desculpa. Sim, prepotência, eu sei, mas aqui não tem falsa modéstia. A experiência Hendrix vai além, muito além. É um fênomeno. Um ícone da geração contracultural mais encantadora que, no palco, botou fogo na sua guitarra. Sua maldita guitarra que ele sabia destroçar como ninguém. Os acordes desse cara eram tocados à velocidade da luz, e sua magia vinha direto da bandana na qual escorriam ácido e suor. E, assim, dava mais charme ainda e, de certo modo, protegia aquela cabeleira maravilhosa. Aquele cara é/foi a incarnação do rock e do black power ao mesmo tempo. E, momento segredo, deixa eu revelar o porquê de um cabelo assim: é pra proteger as idéias, sim, é mesmo. Mostra pra eles, Jimi, mostra! Vai lá, negão, e grita pra essa gente que when the power of love overcomes the love of power world will know peace.

Ridículo. Incomparavelmente genial.

Então, vem. Venham, venham comigo porque quien se acerca, se enciende.

E, assim, começamos com o mundo, pois como já disse o Drummond "tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo". Logo, se vocês tão comigo nessa, se partilham desse enorme tesão pela vida e por tudo o que esse mundo maluco tem a nos oferecer, ensinar e mostrar, venham comigo e comecem essa viagem com o texto do mar de fueguitos do Galeano, primeiro escrito da página inicial de El libro de los abrazos.
Um abraço e muitos livros!
Gainsbourg. 


"El mundo

Un hombre del pueblo de Neguá, en la costa de Colombia, pudo subir al alto cielo.
A la vuelta, contó. Dijo que había contemplado, desde allá arriba, la vida humana. Y dijo que somos un mar de fueguitos.
- El mundo es eso – reveló –. Un montón de gente, un mar de fueguitos.
Cada persona brilla com luz propia entre todas las demás. No hay dos fuegos iguales. Hay fuegos grandes y fuegos chicos y fuegos de todos los colores. Hay gente de fuego sereno, que ni se entera del viento, y gente de fuego loco, que llena el aire de chispas. Algunos fuegos, fuegos bobos, no alumbran ni queman; pero otros arden la vida con tantas ganas que no se puede mirarlos sin parpadear, y quien se acerca, se enciende.

Eduardo Galeano"

1 commentaire:

  1. lindo, velho! demais! tu sabe muito, sabe com teu corpo, sabe com o sangue. sente. sentir antes de saber. sentir-saber. é disso que se trata! se nascemos num mundo pós-utopias, se a herança que nos deixaram foi a democracia capitalista e sua hegemonia global, temos que buscar dentro de nós e nesses espíritos fantásticos que insistem em falar aos nossos ouvidos sobre outro mundo que é possível. falam da inutilidade das utopias, e falam que não faz sentido falar em esquerda e direita hoje. ora bolas, mi amigo, faz mais sentido do que nunca. pq quanto mais nos dizem essas coisas, só precisamos da faísca que é ver um miserável na rua para explodir em indignação, paixão, ódio, esperança, vontade e determinação. a dominação subjetiva não se consolidará. NO PASARÁN! NO PASARÁN! NO PASARÁN!, como nos (nós) ensinam os antifas. amar e mudar as coisas. devir esquerda!

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